Quanto mais eu leio jornal, mais enojado eu fico. E quanto mais comentários de leitores eu leio, mais quero que o mundo acabe logo em dezembro. Tá, eu sei, encontraram a continuação do calendário maia. Droga!
Pois bem, esta semana, o presidente da Câmara, o deputado Marco Maia (PT – RS), autorizou o reajuste de 30% na verba de gabinete destinada ao pagamento dos salários de funcionários contratados sem concurso público. A partir de 1º de julho, a verba passa de R$ 60 mil para R$ 78 mil. A justificativa é que estes assessores têm os salários mais baixos da Câmara e estão sem reajustes há cinco anos. Cada deputado pode contratar até 25 funcionários não concursados. E você se pergunta: pra que tanta gente e o que esse povo faz?
Na mesma semana, a mesma Câmara aprovou a meta de investimento de 10% do PIB em educação nos próximos dez anos (atualmente, este valor é de 5%). Tudo muito bonito e elogiável, mas a principal crítica é que este número é bastante irreal e inatingível. Em outras palavras, de onde virá este dinheiro? Não seria muito melhor se o dinheiro reservado hoje fosse melhor gerido? Pois é! Ainda somos um povo que joga lixo no chão e reclama de enchentes. A meta agora segue para o Senado.
Não satisfeita, ainda na mesma semana, a Câmara fez outra bizarrice. Julgar se suspende ou não a decisão do Conselho Federal de Psicologia de proibir “a cura” da homossexualidade (que não é considerada doença desde os anos 1970). O projeto que suspenderia a decisão do CFP é de autoria do deputado João Campos (PSDB – GO), da bancada evangélica. Onde já se viu deputados julgarem o que é ciência? Daqui a pouco vão convocar astrônomos para decidirem se a Terra é mesmo redonda. O debate foi acalorado e cheio de barracos, debatedores não compareceram, o CFP não quis participar por julgar a composição da mesa pouco equilibrada e nada foi decidido. No final das contas, como disse Luth Laporta, da Companhia Revolucionária Triângulo Rosa, que esteve no debate, “essa foi uma audiência feita pela comunidade evangélica para comunidade evangélica. Não houve uma discussão democrática”.
Poucos dias antes da bancada evangélica vomitar sua ignorância, dois irmãos gêmeos foram atacados por oito pessoas na Bahia, simplesmente porque preciam eram gays abraçados. Um dos irmão levou tantos socos que teve afundamento de face, o outro, José Leonardo da Silva, morreu no local. Ele levou diversos golpes na cabeça com um paralelepípedo. Uma selvageria. E na mesma quinta-feira em que os deputados queriam aprovar a “cura gay”, um rapaz de 15 anos foi brutalmente assassinado em Volta Redonda, Rio de Janeiro. Lucas Ribeiro Pimental foi espancado a pauladas, empalado, teve os dois olhos furados e depois seu corpo foi jogado no rio Paraíba do Sul.
José Leonardo e Lucas são apenas uma pontinha numa estatística, infelizmente, precária. Estima-se que uma pessoa seja morta a cada 36 horas apenas por ser homossexual. Eu disse precária, porque não existe uma estatística oficial para crimes de ódio, o número é do Grupo Gay da Bahia e imagina-se que o número real de vítimas seja muito maior que o notificado. Agora, bolsonaros e malafaias, argumentem contra os fatos! Digam que não existe homofobia no Brasil e mostrem o quão cristãos vocês são! Porque para mim, um cristão valoriza e define uma pessoa por seu caráter, e não por sua orientação sexual.
Mas o que os dois parágrafos iniciais têm a ver com o restante do texto? Educação. Homofobia e qualquer outro preconceito nada mais é que ignorância. E confundir tolerância com aprovação é a mesma coisa. Você pode não gostar de gays, ou negros, ou orientais, ou obesos, ou pobres… enfim, mas você não pode negar seus direitos igualitários. As pessoas só vão entender isso quando a educação for de qualidade e para todos, seja com 5% ou 10% do PIB, o importante é que esse dinheiro seja corretamente administrado. O Chile, um país em que a educação vai muito bem, obrigado, aprovou a criminalização da homofobia depois que um jovem foi assassinado no início de março passado (reparem na rapidez). O caso comoveu o país e a aprovação (apertada, é verdade) foi comemorada, ainda mais que o Chile é governado por um partido conservador e sua população sofre grande influência religiosa. Logo, religião não é desculpa. Mas religião deturpada é. E com educação, as pessoas param de jogar lixo no chão.